Quando contei a meus amigos que o meu próximo destino de viagem seria Israel, não senti nenhuma empolgação por parte deles. Perguntavam-me: - o que você vai fazer lá? ou por que você não vai à Austrália com fulano? Confesso que eu fiquei receosa. Não por se tratar de um país em pé de guerra, mas sim pelo perfil de viajante que eu temia encontrar: grupos de pessoas religiosas seguindo os caminhos santos. Cheguei até a reduzir o tempo que ficaria lá. Arrependi-me. Sim, os grupos religiosos estão por todos os lados e não faltam temas para abordarem. Se você tem esse interesse, vai aproveitar muito bem a sua estada, porém, Israel é muito mais do que isso.
Minha jornada começou em Jerusalém. Para quem não sabe, ela é dividida entre a cidade nova e cidade antiga. É essa pequena porção da cidade, compartilhada por quatro religiões que é a maior razão da disputa territorial entre judeus e muçulmanos. Foi lá onde me hospedei, pois é lá onde ficam as grandes atrações como o Muro das Lamentações, o Santo Sepulcro, o Domo da Rocha e tantos outros locais históricos. Temia passar o dia bocejando entre monumentos religiosos, mas me surpreendi com cada lugar pitoresco pelo qual passava e com os sentimentos que despertavam em mim. Poderia passar dias apenas perambulando pelas ruelas e os bairros divididos por religião: o muçulmano, o judeu, o cristão e o armênio. Apesar de ter iniciado a minha visita pela cidade antiga, depois da experiência, recomendaria iniciá-la a partir do Monte das Oliveiras, onde é possível contemplar a cidade inteira e decidir aonde ir. No total, recomendaria quatro dias na cidade.
A partir de Jerusalém é possível comprar passeios para todo o país, incluindo regiões muçulmanas como Belém e Jericó. Eu escolhi a mais popular: as ruínas da fortaleza Massada e o Mar Morto passando por Jericó. É possível chegar a Massada, que fica no topo de um monte no deserto, a pé sob o sol escaldante ou de bondinho. É claro que eu escolhi o bondinho, mesmo assim, quase morri de calor. Só o Mar Morto para me refrescar. Sempre quis boiar em suas águas, mas me decepcionei um pouco porque a região onde se pode nadar é bem rasa e o sal pode ser um instrumento de tortura quando se tem um machucado. Mas mesmo assim valeu a pena, realizei esse desejo de criança. A passagem por Jericó é breve, mas memorável, pois se vê que as regiões muçulmanas foram muito maltratadas pelas guerras e nunca se recuperaram.
Até aí já vale a viagem. O bônus foi a minha ida a Petra na Jordânia, que vale a pena quando já se está tão perto. Comprei o passeio em Eilat onde pipocam agências especializadas em cruzar fronteiras, mas cruzar sozinho é bem tranquilo também. De volta a Eilat, quando eu achava que era a cidade mais entediante do país, resolvi ir nadar com os golfinhos e valeu cada centavo. Foi meu primeiro mergulho e foi bem tranquilo numa região pequena. Dizem que a grande atração lá é o aquário, mas eu não fiquei para conferir.
Dos outros lugares onde eu fui, valeram a viagem: Haifa, no norte, que além de muito charmosa é onde ficam os jardins sagrados da religião Bahai que basicamente incorpora o melhor de cada crença; Cesaréia, um parque arqueológico de ruínas romanas à beira do oceano, incluindo um pequeno Coliseu, lindíssima paisagem; e finalmente, Tel Aviv. Não me encantei de cara com Tel Aviv. Foi depois de um passeio de bicicleta ao pôr-do-sol que comecei a entendê-la. É uma pequena cidade grande, com muita vida noturna e cultural. Um lugar bom para conhecer pessoas, ir ao museu ou apenas caminhar pela areia da praia.
Foi nesse clima que terminei a minha viagem. Entre uma cidade e outra, fiquei em Kibbutzim, celebrei o Shabbat, encontrei personalidades israelenses, conheci do judeu mais ortodoxo ao mais liberal, do palestino cristão ao muçulmano e inúmeros viajantes solitários como eu. Em Israel nunca se está realmente sozinho, sempre existe alguém querendo conversar e contar histórias singulares. Quem diria que um país que pode ser percorrido de ponta a ponta em nove horas guarda tantas surpresas?
Seguem algumas dicas que eu gostaria de ler na internet:
Entrada e saída do país:
- Não é necessário visto de turismo para ficar até três meses.
- Se pretende viajar a um país muçulmano que não seja a Jordânia ou o Egito depois dessa viagem, vai ter que trocar de passaporte ou pedir para não o carimbarem, o que dizem que nem sempre acontece.
- Entrar no país é tranquilo, já sair é um pesadelo, especialmente quando se viaja sozinho. Eles abrem tudo, perguntam o que você fez, o que vai fazer, por que comprou isso ou aquilo, fazem raio X... Se não estiver com um grupo, chegue três horas antes do voo e tente não deixar essa última impressão estragar a sua viagem. Eles são chatos, mas depois ficam pedindo desculpas se você conseguir manter a paciência.
Segurança:
- Não é um país perigoso com exceção de algumas regiões em Jerusalém onde há trombadinhas. É possível andar a noite sem medo.
- Em qualquer lugar que você for entrar, terá de abrir a bolsa para ser revistado, então ande com pouca coisa.
- Não se assuste com os diversos soldados andando armados, às vezes até bebendo no bar. Eles normalmente carregam a arma até no tempo-livre temendo perdê-la e irem para a prisão.
Comunicação:
- Todas as pessoas mais jovens ou falam fluentemente ou arranham no inglês e gostam de usá-lo.
Preços:
- Israel é um país caro, não tanto quanto Paris, mas assusta um pouco.
Transporte:
- É única coisa realmente barata lá e é feito quase todo por ônibus e alguns trens. O melhor meio de transporte saindo do aeroporto internacional Ben Gurion até Tel Aviv ou Jerusalém é o trem.
- Em Jerusalém não há ônibus durante o Shabbat (do pôr-do-sol de sexta-feira até o pôr-do-sol de sábado) e essa regra vale parcialmente para as outras cidades. O melhor lugar para se passar o Shabbat, se quiser viajar, é Tel Aviv. Uma opção para ir a alguns locais são as sherot ou vans coletivas.
- Se quiser levar malas grandes não é uma boa ideia ficar na cidade antiga de Jerusalém, já que as passagens são muito estreitas e há muita subida.
Atrações Turísticas:
- Quem vai a Jerusalém e não vai ao Domo da Rocha não esteve lá. O acesso a não muçulmanos só é permitido por uma rampa saindo do Muro das Lamentações que só é aberta duas vezes ao dia de segunda a quinta-feira, quando não é feriado para nenhum dos lados e a visita é feita somente pelo lado de fora. Os horários são muito restritos e podem variar um pouco, normalmente bem cedo e em torno do meio dia por uma hora cada vez.
- A visita ao andar mais famoso dos jardins Bahai é obrigatoriamente guiada e só é feita de hora em hora até o começo da tarde. A visita ao templo só é feita pela manhã.
- Se você ligar para o Consulado da Jordânia perguntando se é necessário visto para ir a Petra e voltar a Israel, eles te dirão que sim, o que é uma meia verdade. Através de Eilat, ele não é necessário e por outras fronteiras, ele deverá ser obtido lá. O visto obtido aqui só será necessário se você pretende passar mais do que um dia na Jordânia.
Compras:
- Quando barganhar no mercado árabe comece com 30% do preço que o vendedor pedir e evite moedas fortes como o euro ou algo que custa R$ 50,00 vai sair 50 euros. Aliás, em alguns lugares eles até aceitam real. O ideal é pesquisar e depois voltar ao mercado com o dinheiro contado.
Comida:
- Se você não vive sem a combinação carne e queijo, como eu, a comida é um pouco difícil de engolir. É basicamente tudo o que se encontra num restaurante árabe. O substituto do queijo é a famosa pasta de grão de bico, o humus.
Tempo:
- Eu não passei frio em nenhum momento e aparentemente o máximo que se necessita lá é um moletom. Chuva, só rezando...
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